Pular para o conteúdo principal

AMD Fusion: será o fim das placas de vídeo discretas?

O mercado de tecnologia de informação está passando por mudanças significativas. Daqui a alguns anos, é provável que dois eventos sejam considerados marcos dessa nova etapa da TI: a compra da ATI pela AMD, em 2006, e o lançamento do AMD Fusion, em 2011.

Essas mudanças colocam uma questão em evidência: a iminência do lançamento do AMD Fusion, um novo tipo de processador, que incorpora tanto uma CPU quanto uma GPU, irá acabar com as placas de vídeo discretas?





Um pouco de Economia: a Lei dos Rendimentos Decrescentes

A ciência econômica postula, na Lei dos Rendimentos Decrescentes, que, em processos evolucionários, as adições subsequentes de recursos produzem cada vez menos ganhos no resultado final desse processo.


No caso das CPU´s, por exemplo, uma nova versão de processador, que tenha o dobro da quantidade de transistores (recursos), não apresentará o dobro da performance (resultado final). No caso das GPU, um chip que dobre todas as quantidades de recursos (shaders, memória, interfaces), não apresentará, ao final, o dobro de desempenho.

Nos momentos iniciais desse processo, quando os dispositivos estão no início de seu processo evolutivo, as manifestações da Lei dos Rendimentos Decrescentes não são tão evidentes, pois ainda estamos em níveis de performance e de tecnologia agregada muito baixos, e, assim, os ganhos advindos de uma geração para a outra são expressivos.

Com o passar do tempo, e as subsequentes gerações, os ganhos são cada vez menores, chegando, no limite, ao ponto em que se pode aumentar indefinidamente a quantidade de recursos, e o resultado final (desempenho) permanecerá inalterado.

Ascensão e queda das placas de som

Na indústria de tecnologia da informação, um caso clássico desse processo são as placas de som dedicadas. Os primeiros computadores dispunham de sistemas de áudio rudimentares: apenas um auto-falante de PC que tinha a capacidade de fazer um "bep-bep".

Surgiu, então, a necessidade (demanda) por aúdio de maior qualidade, e, consequentemente, placas de som dedicadas. Quem desejava um som de maior qualidade, comprava uma "SoundBlaster" e instalava no PC. O ganho, em termos de qualidade de som, eram incomensuráveis: o PC ia do "bep-bep" à uma qualidade de som que se equiparava aos sistemas de som básicos de uso doméstico.


As placas de som se tornaram um sucesso, venderam muito, evoluíram, incorporaram uma série de funções, até que chegaram a um ponto em que os ganhos de uma geração para outra já não eram tão grandes, e também, qualquer placa já atendia plenamente todas as necessidades dos consumidores.

O começo do século XXI marcou o início do fim das placas de som. Morreram quando chegaram ao ponto em que os avanços técnicos encontraram um patamar em que todos os anseios de qualidade dos consumidores e dos desenvolvedores de aplicações foram atendidos. Tornaram-se, então, uma commodity, seu custo de produção caiu a praticamente zero, e foram completamente incorporadas nas placas mãe.

As placas de vídeo estão se aproximando do ponto de inflexão?

Qualquer pessoa que acompanha o mercado de GPU´s sabe que a NVIDIA vem renomeado suas placas gráficas desde o advento do processador G92, introduzido em 2007 na 8800GT, e depois usado nas GeForce 9600, 9800, GTS 150, e na GTS 250.

A NVIDIA tem sido capaz de manter o nível de vendas com pequenas reduções de preços nos últimos dois anos. Isso é possível porque, para níveis médios de qualidade da maioria dos jogos, o G92 ainda se sai bem, e mesmo em títulos modernos, como Far Cry 2, por exemplo, o G92 ainda entrega 30 quadros por segundo em baixas resoluções.



Por outro lado, temos a AMD Radeon HD 5970, que é tão estupidamente rápida, que mesmo usando um monitor de 30" e colocando todas as definições de qualidade no máximo, a placa ainda entrega mais de 100 quadros por segundo na maioria dos jogos.


A introdução da tecnologia AMD Eyefinity é um exemplo de que o nível de performance desse tipo de equipamento chegou em um patamar tão elevado, que é preciso inventar necessidades adicionais para justificar o investimento em uma placa desse tipo. O Eyefinity, em suma, dá um jeito de dobrar ou triplicar a carga de trabalho em cima da GPU, para que se justifique o investimento em um hardware com tal nível de desempenho.

Os novos jogos irão continuar a demandar tanto processamento gráfico?

Se formos analisar os novos jogos de computador, pode-se observar que seu desenvolvimento não está mais   acompanhando a evolução do hardware. E isso pode ser um problema. Os fabricantes de hardware fazem produtos mais e mais velozes para permanecer no negócio, e os desenvolvedores de games precisam vender mais e mais jogos também.


Entretanto, desenvolver um jogo que rode a 30 quadros por segundo em uma AMD Radeon HD 5970 exigiria um investimento enorme em arte para encontrar um público consumidor pequeno e que dispõe de um hardware desse nível.

Mas para desenvolver um jogo desse nível, seriam necessários muitas centenas de milhões de dólares em investimento, e esse investimento teria que ser pago, com vendas. Como vender em massa um jogo que só roda direito em uma Radeon HD5970?

Isso nos mostra que, talvez, o nível de desenvolvimento dos gráficos dos jogos já está se aproximando de um ponto de rendimentos decrescentes, ou seja, ganhos adicionais demandam uma quantidade enorme de investimento, o que torna o processo inviável economicamente.

Jogos como Halo 3 e Gran Turismo 5 dispõem de orçamentos estratosféricos de US$50 a US$60 milhões de dólares. O GTA 4 teve um orçamento de US$ 100 milhões de dólares. Se forem incluídos os custos com marketing, o orçamento do Call of Duty: MW2's chega a US$ 200 milhões de dólares.

São números comparáveis aos investimentos dos Estúdios de Hollywood em super-produções. De qualquer forma, esses valores não têm como continuar se expandindo a taxas exponenciais indefinidamente. Na realidade, até mesmo a taxa de expansão que mostraram nos últimos anos já não é mais possível de ser mantida. Ainda na década de 90, os jogos mais caros custavam US$ 300.000 de desenvolvimento, e chegaram a centenas de milhões de dólares, hoje. O teto econômico dos orçamentos de desenvolvimento de jogos de computador está sendo atingido.

Então, conclui-se que o mercado de jogos de computador não tem mais muito espaço de desenvolvimento para demandar mais hardware, logo, o ciclo "jogos de computador mais sofisticados -> demanda hardware gráfico mais sofisticado", parece estar no fim.

GPGPU: as novas aplicações das placas de vídeo

Por outro lado, outros tipos de aplicações podem continuar a demandar níveis de performance crescentes das placas de vídeo. Os processos de edição de imagens são um exemplo. Uma animação da Pixar leva de 5 a 6 horas para renderizar um único quadro, mesmo usando grandes clusters de super-computadores. Há claramente uma grande demanda por performance nesse segmento.

Outra aplicação são os softwares que envolvem quantidades enormes de cálculos matemáticos, direcionados ao mercado financeiro, aplicações científicas, meteorologia, e novas aplicações, como tradução automática e simultânea de conversas entre idiomas diferentes.


Essas novas aplicações para as GPU são os vetores que podem dirigir os avanços em termos de performance dos processadores gráficos na próxima década, evidenciando que há espaço para incrementos adicionais de performance.

O patamar de excelência na experiência do usuário também não foi atingido, e as empresas ainda irão lucrar bastante com novas e potentes GPU, que continuarão sendo introduzidas, assim como jogos mais sofisticados e complexos continuarão a ser criados.

De qualquer forma, quando esse patamar for atingido, as vendas de chips dedicados ao processamento de gráficos começarão a declinar, mas o processo tende a ser bem mais lento do que o verificado com as placas de som, tendo em vista que as placas de vídeo são componentes muito mais sofisticados e complexos que placas de som, e, portanto, sua integração em outros componentes dos computadores não será um processo tão fácil como o verificado com as placas de som.

Conclusão

O estado atual da indústria de gráficos é o de uma posição muito consolidada e forte, o que deve permitir grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento. As aplicações GPGPU (General-Purpose computation on Graphics Processing Units) devem superar jogos de computador como vetor de demanda por desempenho nas GPU.

Assim, os novos processadores AMD Fusion e o Intel Sandy-Bridge, que virão com funcionalidades de GPU integradas, não ameaçarão, no curto-médio prazo, o mercado de placas de vídeo de alta performance.

Comentários

  1. Bom artigo, pra abrir a mente. Só que eu discordo em alguns pontos... apesar de não conhecer muito e ter várias dúvidas ainda, não acredito que o Hardware (VGA) no futuro não será mais o "problema" em relação ao software (game)... como já dito neste artigo, há ainda várias coisas novas encima de tecnologias já existentes, nas quais podem triplicar a demanda de processamento gráfico das GPU's (como a tecnologia ATI Eyefinity e a nVidia 3D Vision)...

    Aliás, tenho uma dúvida: qual será a tecnologia que demanda mais poder de processamento nas GPU's? Seria a ATI Eyefinity ou a nVidia 3D Vision?

    ResponderExcluir
  2. prankstare, então, como eu coloquei no artigo, acredito que o EyeFinity é mais uma funcionalidade criada para gerar demanda para capacidade adicional de processamento (que já é obscenamente, estupidamente, elevada no casos dessas novas VGA Radeon Série 5000). O Eyefinity triplica a carga em cima das GPU, e mesmo assim uma HD5970 ainda tá passeando, de tão poderosa que ela é.
    Os jogos atuais rodando em um monitor normal, até 30" em elevadíssima resolução, não faz nem cócegas em uma HD5970. Ela simplesmente passeia, então inventaram de ela ter que dar conta de 6 monitores simultaneamente (EyeFinity) para "justificar" tamanho poder de processamento.
    Mas a pergunta que fica é: os consumidores querem mesmo o EyeFinity? Existe uma demanda das pessoas para ter um PC com 6 monitores? Sei lá, acho que não. Mas, como diz o Steve Jobs, as pessoas nunca sabem que precisam de alguma coisa até que mostrem a elas essa nova coisa. É o tal negócio: a indústria de hardware tentando criar desejos nos consumidores.

    Quanto ao 3D VIsion e o Eyefinity, acredito que ambos demandam muito processamento. O 3DVision porque precisa renderizar pelo menos o dobro de frames por segundo, para gerar o 3D. E o EyFinity pode chegar a multiplicar por 3 a demanda de processamento.

    O grande problema é que as placas da AMD, as Radeon Serie 5000, tem esse poder. As da NVIDIA não. Vamos ver a GTX480 e a GTX470, mas duvido muito que mesmo a GTX480 chegue perto da performance da AMD Radeon 5970. Acho que a GTX480 deve ficar no nível da HD5870, e olhe lá. []s.

    ResponderExcluir
  3. Só a nível de curiosidade...

    "...Vamos ver a GTX480 e a GTX470, mas duvido muito que mesmo a GTX480 chegue perto da performance da AMD Radeon 5970. Acho que a GTX480 deve ficar no nível da HD5870, e olhe lá."

    Por que achas isso? Não estou muito por dentro sobre VGAs.

    ResponderExcluir
  4. @prankstare, é mais uma suposição minha, mas fundamentada nos rumores recentes sobre a nova placa da NVIDIA. As informações que foram divulgadas até o momento sobre a GTX480 é a de que o projeto foi equivocado, gerando um chip grande, quente e voraz consumidor de energia (em torno de 275W, próximo ao limite da especificação do PCI-e).

    Em termos de performance, quando submetida a jogos, os resultados não foram superiores a 5% em relação à HD5870, o que indica que a GTX480 ficará muito longe da top de linha da AMD, que é a HD5970.

    De qualquer forma, parece que para GPGPU a nova placa da NVIDIA terá uma performance muito boa, entretanto, no momento, o mercado principal é dos games.

    Quando digo que a GTX480 deve ficar no nível de performance da HD5870 é em relação a jogos de PC, não em GPGPU. O problema é que a HD5870 consome muito menos energia para entregar essa nível de performance, o que torna evidente que a GTX480, ao que tudo indica, somente será indicada para aplicações GPGPU.

    Informações sobre os resultados preliminares e extra-oficiais da NVIDIA GeForce GTX480 aqui: http://www.semiaccurate.com/2010/02/20/semiaccurate-gets-some-gtx480-scores/

    []s.

    ResponderExcluir
  5. isso esta acontecendo pelo fato de AMD ser "por enquanto na minha consepção" a sengunda opção de muitos ainda em se falando de games isso pelo fato de muita pessoas serem leigas no assunto, mais é coisa de pouco tempo até a AMD mostrar que esta muito a frente em tecnologia em relação a Nvidia e intel, maior prova disso é a radeon serie hd 5000, que estão dando show wm performace e ainda a AMD acaba de colocar mais lenha na briga com os novos drivers catalisty 10.3, que dizem aumentar em 20% o poder dessas VGA's, enquanto a nova serie da Nvida diz ser de 5 a 10 % mais rapida que as radeon hd 5800, na minha humilde opinião vai continuar levando pueira da ATI/AMD.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui. Não esqueça de deixar seu nome. Mensagens que façam uso de termos de baixo calão (palavrões) ou conteúdo ofensivo será apagado sem prévio aviso.

Postagens mais visitadas deste blog

Teste / Review Notebook Positivo Premium R457P Intel T6600 Chipset SIS

O Notebook Positivo Premium R457 P é equipado com o processador Intel Core 2 Duo T6600 e chipset SIS Mirage 672. O sistema operacional é o Windows 7 Home Premium. O que chama a atenção é o termo "Premium" no nome do notebook: Positivo "Premium". Talvez a Positivo Informática resolveu emprestar uma parte do nome do Windows Home "Premium" no seu notebook. O problema é que o chipset SIS 672 é tão ruim, que nem mesmo uma das funcionalidades "Premium" do Windows 7 funciona nesse notebook: a interface Aero. O acabamento, chamado pomposamente de " Black Piano Perolado ", também está muito longe de qualquer coisa que possa remotamente lembrar o conceito " premium ". As teclas são de plástico pintado em branco com alguns minúsculos pontos brilhantes, para justificar o termo "perolado". O resultado final, porém, não agrada: a tonalidade não é uniforme e o "branco" já vem amarelado mesmo quando novo.

Teste / Análise do Notebook HP Pavilion DV4-1620BR: CPU Intel Pentium e GMA4500

O HP DV4-1620BR é um notebook baseado no processador Intel Pentium Dual Core T4300 e no chipset Intel GM45 , que incorpora o processador gráfico Intel GMA4500 .  O processador  Intel Pentium Dual Core T4300  dispõe de 2 núcleos de processamento (Dual Core), cada um dos quais trabalhando a 2.1Ghz, com um cache L2 de 1MByte e um FSB de 800Mhz. Veja também o nosso teste sobre o Sony Vaio VPC-EE23EB/WI . Em termos de dissipação térmica, o  Intel Pentium Dual Core T4300  apresenta um TDP de 35W. Trata-se de um modelo da família Pentium Dual Core Mobile, sendo de uma categoria inferior aos Intel Core 2 Duo Mobile, como o Intel Core 2 Duo T6600 .

Teste / Análise: Megaware MegaHome DC - Intel Pentium® Dual Core 2.5Ghz

A linha de computadores desktops Megaware Megahome DC Series é composta por PC´s  com configurações modestas, processadores de performance limitada, sistema de vídeo on-board, memórias de baixa performance, capacidade de armazenamento de hard-disk entre 300 e 500Gb e uma fonte de alimentação básica. Um computador com essas características é indicado para tarefas básicas, mas que atendem a maior parte do público consumidor de PC. “Tarefas básicas” significa: acessar a Internet, editar textos, planilhas e apresentações, acessar o Google Earth, Google Maps e redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter, etc.