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Ipad e o design alemão não revisitado

Por Tamine Maklouf

O hype consumista da hora é mais um produto “altamente revolucionário” da Apple: o tal do Ipad. Por conta disso, foi lembrado há umas semanas o nome do renomado designer alemão Dieter Rams. O celebrado design da marca, popularizado há menos de 10 anos e talvez a conquista mais notável desta instituição americana que é a Apple, foi inspirado nos designs de Rams feitos a partir da década de 50.


Rams desenhou do meio dos anos 50 até os 90 produtos para a Braun, marca de eletrodomésticos alemã. O uso do design minimalista, antecipado pela Bauhaus décadas antes, foi oportuno no período pós-guerra e do aumento da produção de massa. O lema “menos é mais” era adequado para começar a reconstruir uma sociedade que a partir dali teria que lidar com o passado Nazista e mais uma penca de traumas. O design do produto desta nova indústria não nascia de uma ideia superficial. Era, sim, durável e honesto com o consumidor, importantes princípios para o bom design, segundo Dieter Rams.

O design de Rams leva um conceito que ele verbaliza nos chamados “10 princípios para o bom design”. Para Rams, a Apple é a única empresa do mundo que respeita esses princípios. Mas não é assim que pensa o professor de Teoria do Design da Universidade de Artes de Hamburg, Friedrich von Borries. Em artigo, Borries comparou os princípios do design segundo Rams com as atuais predileções industriais da Apple. O resultado mostrou que a empresa americana não está muito preocupada com o design ideal, apesar de pregar isso.

O professor sugere que o obsoleto slogan „menos é mais” é na Apple “quanto mais produtos, melhor”, ou seja, o contrário de todo o pensamento que fundamenta o design de Rams. O próprio Ipad, por exemplo, não vai rodar arquivos em Flash, formato da concorrente Abode, o que fere outra regra do Rams. O consumidor não é mais o principal beneficiado, e sim o marketing da coisa toda.

Mas toda essa “fundamentação” é só para explicar que os primeiros designs da Apple não tinham nenhum fundamento, por assim dizer. Jonathan Ive, seu principal designer, cresceu em Londres, enquanto Rams vivia sua adolescência em um país em estado de pós-guerra. Os primeiros produtos que o jovem Ive desenhou pra Apple não parecem em nada os que hoje são reverenciados por um gigantesco espectro de consumidores, desde geeks até dondocas mundo afora. Dá para perceber que em algum ponto no meio na história os caminhos de Ive e Rams (mesmo em pensamento) se encontraram para escrever mais um capítulo da fabulosa história do consumo.

A Apple foi responsável por algumas inovações na indústria da música, com toda a sua filosofia “think different”, mas certamente não com o seu design, alçado comumente como revolucionário e inovador. Se formos pensar bem, nos anos 50 já haviam até barbeadores similares a um Ipod. Vovôs de então já se deliciavam com o design clean de um eventual Barbeador Braun.

Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog http://www.diekarambolage.wordpress.com/

Fonte: Blog do Noblat

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